''O primeiro beijo é uma coisa muito falada .Sem duvida é uma experiencia muito marcada , inesquecível . O primeiro beijo é uma maturação , uma descoberta . Ao mesmo tempo , para alguns ele pode ser um monstro assustador '' diz o cineasta Esmir Filho , diretor de ''saliva'' .
Tinha acabado de ler uma matéria sobre o primeiro beijo , no pequeno apartamento em que morava desde que ficará viúvo , quanto tocou o telefone . Era uma mulher , de voz fraca e rouca , que ele de inicio não identificou : Aqui fala a Marília disse a voz . Deus, a Marília ! A sua primeira namorada , a primeira garota que beijou , décadas atras .
Ela explicou :Estou no hospital , Sérgio . Com uma doença grave . E queria ver você . Pode ser ? Claro apressou-se pra dizer. Eu vou ir agora mesmo , anotou rapidamente o endereço , vestiu o casaco , saiu pegou um táxi . No caminho recordava aquela namoro que não tinha durado muito tempo, o pai dela era militar havia sido transferido para o Norte , e teria perdido o contato . Nunca a esquecera , ainda que depois tivesse beijado varias moças , uma das quais se tornaria sua companheira de toda a vida , mãe de três filhos , avo de cinco netos . E não a esquecera por causa daquele primeiro beijo tao desajeitado e ardente .
Chegando ao hospital foi direto ao quarto . Bateu , uma moça abriu-lhe a porta , era a filha de Marília . Ele entrou e la estava ela Marília envelhecida , devastada pela doença , quase não a reconheceu a garota que namorava décadas atras . A filha disse que deixaria-nos a sós .
Olharam-se, Sérgio e Marília, ele com lágrimas correndo pelo rosto. - Você sabe por que chamei você aqui? -perguntou ela, com esforço. - Porque nunca esqueci você, Sérgio. E nunca esqueci o nosso primeiro beijo, lembra? Na porta da minha casa, depois do cinema... - Claro que lembro, Marília. Eu também nunca esqueci você... - Pois eu queria, Sérgio... Eu queria muito... Que você me beijasse de novo. Você sabe, os médicos não me deram muito tempo... E eu queria levar comigo esta recordação...
Ele levantou-se, aproximou-se dela, beijou os lábios fanados. E aí, como por
milagre, o tempo voltou atrás e de repente eles eram os jovenzinhos de décadas
antes, beijando-se à porta da casa dela. Mas a emoção era demais para ele:
pediu desculpas, tinha de ir. A filha, parada à porta do quarto, agradeceu-lhe:
você fez um grande bem à minha mãe. E acrescentou, esperançosa: - Acho que ela
agora vai melhorar. Não melhorou. Na semana seguinte, Sérgio viu no jornal o
convite para o enterro. Mas, ao contrário do que poderia esperar, apenas
sorriu. Tinha descoberto que o primeiro beijo dura para sempre. Ou pelo menos
assim queria acreditar.
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